O carnaval passou e nem sei se eu
nem vi, fruto desse mundo louco que a gente anda. Nem sei se veria mesmo, e se
visse, colocaria a mesma velha calça jeans com uma camiseta preta desbotada e
escutaria algo totalmente alheio, até pra implicar com toda aquela alegria que
um dia chegou a contagiar mas hoje de longe se aproxima da minha empatia.
Sou daquele tipo de carnavalesco
que não se esquece que a vida vai além de sábado à terça-feira de um fevereiro
qualquer achando que tudo que se faz nesses quatro dias pode ser imune de todo
julgamento. Não é, nem nunca foi, ao menos pra mim.
Vai ver é porque de tanto atuar como
Pierrot que minha alma cansou um pouco disso tudo. Vai ver é porque tenho
vivido várias e várias quartas-feiras cinzentas ao longo do ano que já não me
deixo permitir uma alegria ilusória. Vai ver é porque busco pequenas porções de
sorrisos em prazos longos ao invés de risos intensos com hora marcada para
terminar e depois serem substituídos por uma dor de cabeça de um dia inteiro.
Guardei meu confete, por mais um
ano, deixei minha fantasia atirada em um canto do roupeiro mais uma vez. Ao invés
dela, visto a saudade apontada por Vinícius e o cotovelo machucado de Lupicínio,
em busca de um sambinha lento e confortante, que me deixe quieto numa mesa de
bar ao invés de correr pela avenida em busca do êxtase do bloco.
E assim se faz a
minha escola de um único coração. Eu me torno esse mestre-sala bambo e só.
Deixo a alegria pro Arlequim, pois em mim ela cairia como um sapato mal
ajustado, uma calça mal passada e uma camisa de cores que não se conectam com
as do rosto. E meu enredo do carnaval é assim como essas linhas tortas:
cambaleante, sem início, meio ou fim. Tenho apenas, Colombina, aquele velho e
choroso samba (que eu não sambo mais em vão).