sexta-feira, 31 de maio de 2013

A épica batalha entre meu ego versus o que sinto

Til Kingdom Come by Coldplay on Grooveshark

Tantas noites pensando que uma hora cansa. Parece qualquer jogo, qualquer nóia, qualquer nada, mas é só tristeza, talvez teu endereço... Muito pouco a temer, muito pouco a prender, muito pra se aprender até se evoluir, ou tornar-se mais do que se é, mais do que a si mesmo, mesmo ao ser menos do que alguém que quer mais ser um vencedor.

Não se trata tanto de ser, mas sim de o quanto estar define o seu ser. E quantos “estares” mais houveram? Então isso se trata do orgulho, e o quanto ele defendia seu rei. E o orgulho cansou de ver sua majestade em pedaços em função dos ferimentos causados pelos sentimentos.

Gerou-se, primeiro, o conflito. O guardião leal do rei não poderia aceitar o que vinha do outro lado. Ele era a guarda real, e sua devoção e dedicação a isso eram a sua luta e o seu legado histórico. E ele não aceitou: não deixou que os sentimentos se aproximassem para ainda mais sangrar um rei quase moribundo.

Os sentimentos, que em outras épocas já foram mais calmos, e conviveram mais pacificamente com todo o sistema do reino, agora eram fortes, grandes, impacientes, cheios de paixões, ideologias, logo, não iriam retroceder, tinham argumentos e agiam de acordo com a sua natureza, ou seja, só sentiam e iam até aonde poderiam suportar e até o máximo que poderiam chegar. 

Por si só, o orgulho não iria se render. Ele era feito disso, sua luta era essa: feria-se a ele, chegava-se ao rei, e se isso fosse feito, perdia-se toda a razão de sua existência. E, agora, viu o exército oposto se juntar armado em campo de guerra para invadir o reino e fazer com que o rei decidisse a favor de suas reivindicações ou o próprio reino seria tomado e assumido por a maior autoridade daquele exército, um líder nato e aparentemente uma espécie de ícone dentre todos eles.

E o orgulho recorreu àqueles que poderiam se aliar a ele, mas recebeu negativas de todos. Não desistiu, resolveu ser o exército de um homem só daquele embate. Ficaria lá, pelo rei, pelo que acreditava, pelo visível mal que os sentimentos poderiam causar a um mestre quase desvanecido.

Gerou-se o confronto. Inevitável confronto. Infalível para um dos lados. O orgulho vestiu-se com a sua melhor armadura, guardada para o maior dos seus dias, com sua espada forjada a toda fúria e fogo que ele poderia reunir. De longe, e sozinho, viu a chegada de seus oponentes em marcha, com o barulho cada vez mais forte.

Não pestanejou, preparou sua solitária defesa e ataque com a reunião de todas as suas certezas, e não titubeou, nem um minuto. Quanto mais os sentimentos se aproximavam, mais a tensão aumentava, mais forte o pulso batia, e mais o cheiro de uma certeza inevitável de que nunca sairia dali tomava cada veia e cada gota de sangue que circulava borbulhante em si.

A cavalaria se aproximava, e já era forte o barulho do exército inimigo, quando o rei chamou seu guardião. Chegando perto de um rei que nada fazia e parecia esperar a despedida inevitável de um confronto que dividiria águas, disse: “senhor, eis aqui minha espada e minha força, e enquanto isso existir, eu irei brandeá-las com todo o meu louvor e devoção, e que o destino me coloque num lugar de redenção dentro da luta que em momento nenhum irei deixar de encará-la com o melhor que eu puder”. “Muito bem, meu filho, sabia que tu nunca me desapontarias, mas o destino tem que te falar agora, também, que o meu verdadeiro nome é coração, e todos eles são meus filhos. Tenha piedade com a inocência deles...”, disse a majestade, com seu velho corpo deitado embargando uma voz que quase não saiu.

O orgulho não sabia o que pensar, e só teve tempo para ver o volume do exército passando pela linha vermelha e foi lá lutar. Enrijeceu o cenho e a postura, deixou com que a adrenalina invadisse a cabeça e o sangue explodisse nos olhos. Foi, sozinho, contra o exército de sentimentos formado para tomar o lugar e as posturas daquela nação.

Ao rumar-se frente ao líder do exército inimigo, viu o quanto eles estavam perdidos, confusos, caminhando em direção errada, mas com a voz firme dentro de movimentos errantes. O único barulho feito pelo orgulho foi a subida do metal da espada em direção ao ar para depois endereçar o golpe ao capitão inimigo. No meio do caminho do seu braço em direção ao seu oponente, percebeu que todos eles, diferentes soldados do sentir marchando em fúria, eram cegos.

Lágrimas, sangue, fogo, confronto, paixão, incerteza do que há por vir, incerteza do que irá se tornar, vitórias que não trazem louros, derrotas que não fazem perder, dores que se fazem por si só, entregas que só são vistas a sós, a mesma lâmina que atravessa a carne mata e fere quem a empunha e quem a recebe...

Depois da declaração do rei, ele sabia que manter sua palavra e sua lealdade seria um caminho sem volta, e sua inspiradora majestade padeceria junto. Voltou ao leito, correndo, após sua jornada invicta, abrupta, sangrenta, embora piedosa, para ver o que ele teria a dizer: “morro junto com todos eles, meu caro e fiel escudeiro... Já estava escrito e esta é minha sina: morro por ser um coração que foi machucado por quem estava dentro dele”. Pouco importou. Caminho trilhado, batalha vencida, dias que insistirão em nascer, mas que sejam com lealdade, no mínimo, a si mesmo.

terça-feira, 14 de maio de 2013

De qualquer forma, obrigado por pensar em mim

Say It Aint So by Weezer on Grooveshark


Fico me perguntando se não sou uma espécie de Sad Keanu local, com uma vida a considerar e que daria inveja a outras pessoas, mas que prefere por si só ficar vagando por aí dentro da minha intransponível alma que cabe dentro de uma roupa qualquer, sentado em um banco qualquer, deixando passar alguma hora qualquer.

Não é que eu não tenha aspirações, apenas não me permito ser igual a tantos iguais, apenas me permito tentar ser eu mesmo, coisa em falta em tempos que aceitamos que uma foto compartilhada seja mais interessante do que uma conversa cara a cara.

É só um modo diferente de ver as coisas. O que se percebe facilmente é essa correria por dinheiro, status, admiração, bajulação, sexo, mais e mais e mais, e tudo do modo mais rápido que se puder. É um conceito de felicidade atual, que tem esse roteiro pré-determinado. Caminho de tantos, não meu. Ainda e sempre prefiro meus valores, minha identidade, meu canto.

Aliás, se notar (embora eu não saiba ao certo se eu quero que isso aconteça), estou em um canto em todo lugar que eu vou. Na casa de alguém, estou lá sentado de cabeça baixa em algum cômodo, na rua ando o mais estreito que puder junto aos muros, nos lugares com mais gente sempre fico escolhendo onde ficar para me tornar visível só a quem eu quero, e se me mostro, estou escondido atrás de um violão, de um copo, de uma pseudo-alegria, e então, no meu canto, permito-me deixar vir naturalmente todo sentimento que queira aparecer.

Pois é desta maneira que, de certa forma, também carrego a tristeza comigo. Acho ela, inclusive, uma amiga muito interessante, me mostra coisas que a alegria mascara. Conheço o final do poço, estive lá em algumas oportunidades, mas ao contrário do que se quer e do que se pensa, não fiquei implorando e choramingando para alguém me tirar dali.

Não fugi. Encarei a melancolia, perguntei o que ela queria comigo. Resolvi ficar. Resolvi fazer do poço minha sala de estar, e aprender a ver o que está em volta, e aprender a tirar a beleza diferenciada que ele me proporciona. Tem gente que tem estômago para isso, que senta nesse sofá e escuta o que a tristeza tem a dizer nesta nova visita.

Não me questione por isso, é desnecessário, não vou mudar e nem vou escutar os conselhos rasos que vierem. Sou assim e mais do que ninguém sei lidar comigo mesmo. Já diria alguém com o qual tenho uma certa afinidade: “Vocês precisam ser felizes pra viver, eu não”.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Carta aberta aos headphones

Paranoid Android by Radiohead on Grooveshark


Já achei que o mundo se tratasse da relação entre amor e ódio, já espraiei sobre o céu e o inferno e o quanto eles formam nossa sociedade... Meu time contra o seu maior rival, então, nem se fala. Mas o que realmente compreende, alivia, enriquece e dá significado ao o que o todo-poderoso disse ter criado é o espaço estabelecido entre o left e right de um headphone.

É, sim, isso mesmo, você mesmo, fone de ouvido. Cara, tu tem sido um amigo e tanto. Velho, tu nem sabe, mas tu tem me ajudado pra caralho, talvez sem nem perceber.  E digo mais: tu não sabe quando tu me acompanha e o quanto eu consigo fugir de um cotidiano que possivelmente me daria um tédio logo ali. Sei o quanto tu é importante porque sei a falta que tu faz, então não inventa de se estragar. Imagina a diferença entre um mundo sem e com fone de ouvido?

Isso porque com a tua ajuda consegue-se mudar o ambiente, e como tu deve saber, sou um cara que gosta de ser sozinho, mas não de me sentir sozinho, logo, aquelas noites em que estou descendo uma avenida qualquer, por exemplo, são as quais tu mais se destaca. Consigo ver aquelas formas geométricas sob outra ótica, e com algo de Liverpool soando em estéreo percebo a cidade de outra maneira, que me fazem fugir dessa época, dessas modas, dessas tendências...

O aleatório acaba também sendo alguém muito interessante, desde que quem o use não seja daquelas pessoas que tenham algo comprometedor na sua playlist. E, particularmente, o random tira onda comigo. Primeiro porque ele me saca de dentro de um teatro em Madri percebendo vírgula por vírgula a pronúncia de algum caminho de Fito até me mudar de galáxia e me presentear com Space Cowboy.  Segundo, porque ele é justo: não tem jogos, o que escolher vai ser tocado e pronto, e o destino da próxima canção é incerto (e não cairei na tentação de passar a música, até porque isso alteraria toda ordem destinada previamente, seria como criar uma nova linha de tempo com situações totalmente diferentes). Por último, devo lembrar que esse modo randômico já me levou a lembrar de certas situações, quando sorrateiramente, com tanta coisa pra colocar, dedicou naquele momento aquela música que ele sabia que não era pra tocar. Mas, obedecemos às regras, e então ela deve ser escutada até o fim. Pois é, essa mesma bendita ou maldita música imprópria me levou a lembrar de outras coisas, que também me levou a outros lugares, que levaram a outros momentos, e a refletir durante uma noite inteira...

Se afundar numa canção imprópria para o momento numa dessas noites é um risco que se corre, mas também é verdade que pela simples companhia de uma par de headphones, aquela tarde vazia fica consideravelmente melhor. Durante o dia, nós humanos e frutos do rico sistema que fazemos questão de estar (risos) temos vários espaços vazios, minutos desperdiçados esperando alguma coisa qualquer, mas que com eles são cheios. Uma fila acaba sendo um bom lugar pra ouvir o que Dylan diz, um ônibus atrasado acaba sendo a hora que tu conversa com Mayer, e em um supermercado Morrison fica rindo da minha cara enquanto tento me dar bem em direção ao caixa com menos gente e acaba acontecendo um problema no cartão de crédito da pessoa da frente, e assim sou subsidiado em várias situações cotidianistas.

Enfim, algumas coisas que se compreendem no espaço estabelecido entre o left e right de um headphone.