quarta-feira, 28 de março de 2012

Nada além das ruas, nada além de sonhos



Nada me importa quando o que me importa é te ver
Mas será que é tão difícil de fazer você acreditar?
Nem o vazio que sinto nem o escuro do meu quarto vai dizer
O quanto sinto, o quanto quero, o quanto eu preciso te encontrar

E eu continuo a enxergar teu rosto em outros rostos
Será que vou estar com você quando isso passar?

Nada além das ruas tão desertas é o que eu tenho para ver
Nada além de sonhos e utopias é o que eu tenho pra fazer
Nada diferente de você é o que eu teno pra pensar
E fico te esperando toda noite até o dia amanhecer

E eu continuo a enxergar teu rosto em outros rostos
Mas sei que vou estar com você quando isso passar

quinta-feira, 22 de março de 2012

Quando a saudade vem, olho pro mar (...)

Dois Barcos by Los Hermanos on Grooveshark


Quando a saudade vem, olho pro mar. Assim, eu e ele já nos tornamos tão íntimos. Mas o quê fazer? Sou mesmo, por essência, a parede de um rochedo formado de sentimentos, e assim sendo sinto forte o bater das ondas de tristeza e alegria, e elas batem, chocam, espalham, carregam, e batem, chocam, espalham, carregam, e batem...

Mas isso se trata do tanto de nada que se estabeleceu no tão vazio e obsoleto espaço de tempo em que tu insistiu em se mudar da morada que aos poucos construíamos em nosso peito, e que agora nada mais é que um lugar em ruínas, à espera de alguma reconstrução, mas olhado com o descaso implacável dos homens do mar quando chegam à terra firme.

E com o mesmo olhar que eu vejo o Atlântico, revejo o que tu deixou naquela noite trôpega e à deriva. Meu corpo pesava mais e mais. Me debatia, agitava a água sem luminosidade à minha volta. Em vão. Não havia o teu cais, que queria tanto alcançar, não havia o teu chão e o teu socorro. Havia, sim, um mar de ilusões, e um farol errante que não me encontrava.

O que ainda não consigo entender, e só sossegarei com o teu sim, é o seguinte: já não percebeu o quanto a gente se deixou levar pela ressaca desse mar chamado sentir? Já não percebeu o quanto estamos náufragos e longe da praia? Já não sabe que essas águas são tão revoltas que é tarde pra voltar? Então me abraça, suspende o peso do ar nos pulmões e vamos deixar-nos se afogar de uma vez por todas em nós dois.

domingo, 18 de março de 2012

O trem

It Ain't Me Babe by Bob Dylan on Grooveshark

Não me importaria em causar danos. Nunca me importei. Não creio que vou me importar. Ser algo único, viver algo único, ter algo único, era tudo o que eu queria. E te encontrei andando pela tua própria estrada, embarcando na tua própria estação. E eu tava ali, do meu lado, vivendo a minha estrada e subindo no meu trem.

Uma hora os trilhos iriam se cruzar. Haveria um momento em que a navegação se perderia. Existiria uma chance, uma única chance, de uma colisão inevitável de sentimentos, paixões, momentos, histórias, acontecimentos. A diferença era que tu esperavas por tudo sentada no seu vagão, enquanto eu, no meu caminho e na minha história e a tudo que tangia a direção desta minha própria história, roubava a direção e assumia o descontrolado controle ao teu encontro e de encontro onde tu estavas.

A cada tanto de estrada que eu movia as rodas com combustível feito de vontades, desejos, aspirações, tudo ficava maior, mais forte, mais tenso e intenso. Era pra lá que eu queria ir, bater contra tudo e contra todos, depois reconstruir a própria trilha, feita de olhares na mesma direção, na mesma velocidade, na mesma estrada a ser tanto andada, talvez com a calma da certeza misturada a forte alimentação de energia do querer-se.

Assim eu fiz. Desviei, mudei os trilhos, procurei outras direções, e fui, fumegante, intenso, apaixonado, implacável, à sua estrada. Mal sabia eu que, antes mesmo de tudo, tu já havia descido em uma outra estação qualquer, em um outro trilho de história que não a minha, em outro horizonte que não era o meu norte.

O certo que, ao menos nesse caso, tudo se mostrou e me mostrou ser impassível, impossível, irreal, a não ser o tamanho, proporção e consequência de todo e qualquer estrago. Eu era um cego maquinista querendo te encontrar. Nem que fosse com danos.

quarta-feira, 14 de março de 2012

(In)limite

Emotion Sickness by Silver Chair on Grooveshark

Olhou no espelho o rascunho do que um dia tivera sido. Lembrou o que acontecera naquele fim de tarde, onde, o mundo a sua volta parecia não existir mais. As paisagens, borradas, eram um conjunto de coisas desconectas e abstratas, e o que se sentia era um misto de vertigem com dor.

Não focava o olhar, não sentia o amargo na boca, ouvia distante e com atraso o barulho constante da indiferente cidade, passava a mão nas paredes na tentativa de fazer ligação entre o seu mundo e o que o rodeava, mas não conseguia.

O que só conseguia sentir com definição era um vazio tão contraditório que apertava o peito, que queimava a alma e dominava qualquer pensamento, qualquer revés, qualquer alternativa.

Em um minuto de lucidez pensou... E assim lembrou que saiu daquele bairro onde estava a casa\palco do que acreditava ser a sua última discussão. Desacreditado por si mesmo, sem esperanças e atormentado, acelerou seu carro até se perder e bater em um obstáculo qualquer.

Foi o suficiente para abandonar o veículo. O cenário com tons de desespero: fumaça, vidros quebrados, um pouco de sangue e passos cambaleantes. Não havia dor exterior, nem adrenalina, nem nada. Seguiu jornada rumo a sua casa, agora entrando em uma das apáticas avenidas que o cercavam.

Não olhou pros lados ao atravessar, não pensou em qualquer um dos muitos carros que atônitos desviavam e quase provocavam estragos em efeito bola de neve. Mesmo assim, parecia indiferente a tudo, a qualquer consequência, e por sorte ou azar, chegou ao outro lado.

Atalhou por um beco arriscado e escuro, lar de drogas, roubos, prostituição e de pessoas más intencionadas que nada tinham em comum com o seu perfil. Não olhou pra ninguém, nem por precaução nem por qualquer tática, e sim por indiferença. Mas todos olhavam com interrogação para aquela imagem despedaçada e não encontravam sentido.

Faltava passar a ponte e andar mais poucos minutos para chegar à sua solitária morada. As poucas luzes artificiais daquela noite escura ofuscavam qualquer passo e ajudavam a tornar aquela pessoa ainda mais anônima na sua obscuridade. Ao andar pela ponte, com passos bambos, olhou várias vezes para baixo, se debruçou nas grades, sem saber definir ao certo altura e distância entre solo e água. Continuou.

Enfim chegou em casa, depois de um dia que não queria terminar. E a retrospectiva de suas horas chegava ao fim. Retomou a consciência e lá estava no banheiro, onde estendeu os punhos, cheios de cicatrizes de outros tempos, até a água que depois levaria ao seu rosto. Respirou fundo, voltou a olhar no espelho um rosto quase desconhecido, aquele mesmo rascunho em ruínas do que fora um dia. Abriu a gaveta e, repetindo a postura que tivera desde as suas conclusões, resolveu não tomar só um comprimido, e sim todo o frasco.

Veio uma nova queda, com o corpo caído no chão e tudo se tornando branco até desaparecer...
Não havia sido uma discussão conclusiva, no entanto, e ao contrário do que pensava. E cinco minutos depois da queda a outra pessoa, a outra metade dos fatos, estava lá para reparar as coisas, dizer que acreditava em algo maior, que a dor seria superada, que embora não importasse o tamanho dos problemas, eles seriam ultrapassados.

Ainda sem saber o que acontecia, acordou no mesmo branco que havia sucumbido, porém com ações técnicas de enfermagem, em um leito de vida, e não de morte. Olhou pro lado e viu a pessoa que foi (antes de mais nada) dizer horas depois do que seria o último ato de desespero de ambos, que nada estava acabado e que juntos trilhariam os obstáculos que o mundo estava por proporcionar, porém, lá, acabou por pegar nos braços um semi-nada, que socorreu até quase tudo estar acabado.

Mas não estava. Ao despertar, ainda que confuso, viu, sentado no canto daquela sala clara, um rosto assustado, mas com um presente sorriso de alívio e sua quase alegria. E tudo voltou a ter sentido, e a vida voltou a se tratar não de desistir, e sim de cair, levantar e se arriscar uma vez mais.

domingo, 11 de março de 2012

Ele tocava no violão a mesma música que ela escutava no rádio (...)

The Scientist by coldplay on Grooveshark


Ele tocava no violão a mesma música que ela escutava no rádio. Ele lia o mesmo que ela citava. Ele pensava nela durante o tempo que ela sentia sua falta. Ela imaginava os lugares que cruzaram juntos quando ele passava sozinho pelos mesmos locais. Ele procurava o que ela escondia. Ele se arrependia de erros, ela não cogitava perdoar. Ele dormia pensando nela, ela acordava sem querer pensar nele. Ele insistia em dizer, ela insistia em não escutar. Ele queria um novo começo, ela queria o velho final. Ela imaginava o quanto ficou pra trás, ele imaginava o quanto ficou por vir. Ela calculava o quanto ele perdeu, ele calculava o quanto ela deixou de ganhar. Ela ainda gostava dele, ele gostava dela ainda. Ele cansava de tentar reverter, ela cansava de tentar entender. Ele esperou até não aguentar, ela aguentou até não querer mais. Mas ele e ela ainda queriam se encontrar. Sem que fosse preciso, ele e ela deixaram um mundo para trás.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Estava tudo pronto (...)

Lack Of Color by Death Cab For Cutie on Grooveshark

Estava tudo pronto. Pano de mesa novo, talheres ajeitados simetricamente com aquela mania de perfeição, dois pratos, dois copos, o bom cheiro de assado que vinha da cozinha e uma brisa de outubro que vinha da janela. E o par também já estava ali. Mas algo insistia em ser ímpar. No primeiro gole de vinho tinto percebi que havia mais uma cadeira na nossa mesa.

Desabitada naquele momento, mas não vazia. A partir disso, por dentro eu era lembrança, inconformidade e inquietude, e por fora era olhar e palavras distantes. E tudo naquela cadeira silenciosa gritava: o sorriso, os gestos, os olhares, a presença marcante e diferenciada, e principalmente o fato de ela não estar ocupada e mesmo assim ocupar-se de toda a noite.

Aquela terceira cadeira rasgava meu jantar e minha calma.

Esse e outros dias

Último Romance by Los Hermanos亹 on Grooveshark

Me acorda pra dizer um simples “bom dia” que, não importa como eu dormi, vai ser a melhor maneira de se levantar e isso vai inspirar as minhas calmas horas da manhã de uma maneira tão leve quanto o sorriso que darei a cada vez que olhar a sua mensagem (e olharei por toda a manhã até te encontrar).

Me diz, em tom de xingamento mais que agradável, pra comer direito, e também deixa eu te pegar pra almoçar num dia qualquer. Tenho uma sobremesa/surpresa no meu bolso.

Não precisa ir tão rápido, a tarde é longa e aquele filme é melhor contigo, e tenho algumas coisas pra te perguntar sobre minha vida, já que teu toque e opinião pra resolver isso me fazem tão bem.

E se a tarde se for, tem a noite. Deixa eu preparar uma janta como se fosse a última ceia do mundo pra pessoa mais importante dentro dele (e que não deixa de ser a mais importante mesmo). Te quero caçoando das minhas habilidades, implicando com pequenos atos, mas estar ali e arrancar um sorriso teu por qualquer bobagem retrucada é o preço mais alto e recompensador de qualquer jantar.

E tem memórias pra relembrar, e no meu colo adoçar qualquer palavra com um simples carinho. Quando a brisa vier, te esquentar com meu abraço é o mais puro e bonito ato que dedicarei a ti. E tem estrelas pra olhar, e saber que estamos no mesmo céu é bom, mas olhar ele do teu lado é incrível.

E se a noite se for também, saiba que quando acordar, e eu ver aquele “bom dia”, tudo será novamente lindo e vou dedicar todos os minutos que vierem para te fazer feliz. Vem envelhecer esse e outros dias.

terça-feira, 6 de março de 2012

Hermético

A Rush of Blood to the Head by Coldplay on Grooveshark

Dentro da minha bolha tenho o pouco de tudo que me identifica e alimenta: os meus dissabores, amores mergulhados em mágoas, os meus filmes, os meus versos, os meus acordes, minha casa de papel, minha vida de celofane que com qualquer pingo de mentira se desmancha e perde a cor no ar infindo de ilusão e ignorância que às vezes entra lá de fora e me sufoca.