quinta-feira, 3 de maio de 2012

Onde todos giram e eu paro

Esquadros by Adriana Calcanhoto on Grooveshark

Uma família filipina come pizza italiana feita por cozinheiros netos de coreanos que foi entregue por ilegais de El Salvador no bairro judeu de uma cidade originada por imigrantes alemães nos Estados Unidos, enquanto alguém olha para um relógio importado da China de uma vitrine argentina imaginando como seria sua felicidade se fosse surfista neo-zelandês ao invés de despachante imobiliário esperando a morte chegar.

Uma menina pré-adolescente argumenta sobre ser infeliz no amor enquanto assiste a Sessão da Tarde acompanhada do irmão mais velho cheguevarista que veste calçados de grifes multinacionais ao mesmo tempo em que adultos financiam uma casa em sessenta parcelas rezando para que nada aconteça nas suas vidas até pagá-las e cinquentões expressam suas hipocrisias sociais em uma rede virtual que foi popularizada por meninas pré-adolescentes que demonstravam lá suas decepções afetivas.

E quem é esse ladrão arrependido, esse saudosista disposto a se desprender do passado, um casal desistindo, outro tentando, um entusiasta desacreditado e um cético esperançoso? De quem é esse choro invisível de um durão e esse gole de vinho de uma mulher super emotiva que petrificou seu coração?

Em alguma capital, médicos de um hospital lotado se recusam a atender, pelo sistema de saúde público, militantes feridos por policiais que cumpriram, sem nenhum questionamento, a ordem de um governante para agir com violência estúpida e desnecessária contra protestantes grevistas ligados ao mesmo funcionalismo dos policiais e médicos, que reivindicavam melhores condições para o próprio quadro público em que os policiais e médicos estão inseridos e menores remunerações para o executivo, legislativo e as suas respectivas manadas.

Pessoas julgam-se umas às outras em uma cidade interiorana do sul do Brasil.

Lento, rápido, tudo decai, cada mês, dia, noite, segundo, tanto se corre e pouco se sabe aonde ir, tanto se vê o preço de tudo e o valor de nada. Tem horas que cansa, tem horas que enjoa, tem vezes que até enoja-se, satura-se de tudo, e sente-se falta do que ainda nem foi visto. Corre-se sem saber o porquê, aponta-se sem saber para onde. Tanto tudo com tanto nada. Procura-se, mesmo sem notar, uma explicação, uma razão, um caminho e um momento onde o tempo pare e faça sentido.

Eu sei, não por acaso, onde é meu refúgio de tudo, o momento que me salva, o instante que me faz sentir vivo e com fé e me tira de toda a dúvida e confusão cotidiana. O universo pára e nada mais importa e acontece quando aquela voz acaricia, aquela mão segura minha nuca e a cabeça levemente inclina-se para o lado.

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