quarta-feira, 25 de abril de 2012

Entrei no prédio com a certeza do fim (...)

No Surprises by Radiohead on Grooveshark

Entrei no prédio com a certeza do fim. Os primeiros degraus doeram tanto quanto as lembranças das várias vezes que subimos aquele caminho juntos.

No segundo andar imaginava aonde poderia estar, se voltaria tão cedo àquele que era o nosso lugar, às nossas memórias, ao nosso tanto e tudo. Enquanto eu tentava esquecer o quão duro foi dito, o quão pesado foram os dias e horas anteriores, te imaginava em outro canto da cidade, entre suas armaduras e espadas. Era a tua postura, limpava a maquiagem borrada e seguia em frente enquanto eu juntava os cacos do que foi dito e feito. Nunca culpei por isso, mas agora carregava uma simples dor insuportável e corrosiva ao peito.

Passei pela nossa porta no terceiro andar. Resolvi não entrar. Resolvi ir mais alto e estar convicto que nada impediria o final, que o tamanho da queda seria suficiente. Queria subir mais e evitar passar por todos os objetos que tanto gritavam sobre ti. Mesmo no corredor se ouvia os livros, discos, roupas, manias, as paisagens na rua, os pingos de chuva na janela.

O quarto andar não serviu para se arrepender, para se esquivar de uma situação já mais que inevitável e completamente sem esperança. O que se sentia rumo à última escadaria era só a previsão da sensação do vento batendo no rosto por pequenos instantes eternos, pela fé na descrença e na última marcha. Nada mais importava.

No quinto e último andar me lembrei de quando era criança, que sonhava ser um cosmonauta, estar por entre planetas e galáxias, desbravar o universo com a inocência e pureza infantil. Nessa hora soube que eu voaria, mas não para o espaço, e sim para o que a gravidade me propusera: o fim. Era programado o último voo daquela criança que sempre sonhou voar.

Bastava um simples caminho, sem titubear, com passos cambaleantes mas decididos, e então o terraço chegou, e de lá eu te vi, no parapeito, de braços abertos, vento no cabelo, prestes a fazer o que eu fui destinado a fazer.

Mais uma das tantas boas e más coincidências sobre nós, mais algo pra dividir, e não seria em limbo nenhum. Decidi voltar atrás, decidi não me jogar. Foi quando eu te vi, e desconstruí todas as minhas certezas, em função de uma bem maior, senão magnífica: eu te queria mais do que qualquer coisa.

Foi quando te chamei, foi quando me olhou, foi quando eu percebi que doía tanto em ti quanto em mim, que o teu olhar sangrava tanto quanto o meu, que o teu peito explodia tanto quanto o meu.

Foi quando te busquei para os meus braços, pra te confortar, pra te dar segurança, pra te envolver e pra ter a certeza que ali é o seu lugar. Morria naquela noite fria o nosso orgulho, mas não nós. Morria naquela noite uma série de rancores e mágoas, mas não nós. Do prédio onde morava a nossa turbulenta história, e quase o nosso fim, renascia a certeza de que o amor é maior e que o nosso lugar é aonde o outro pode alcançar, em braços e em coração.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Excalibur

Your Body is A Wonderland by John Mayer on Grooveshark


Tem, pra ti, dentro de si, e assim administra, uma espécie de cofre com um universo dentro dele, e lá reserva outra pessoa e que também é tu mesma, e tudo ao mesmo tempo. Por fora, se defende como um cavaleiro medieval, e assim o faz, com metal, força, intransponibilidade, e sem mostrar muito receio.

Mas por astúcia descobri, por entre toda a armadura, como enxergar o que há por dentro. Descobri um portal, vi uma mínima partícula de universo através da tua íris e fui grande pra ver o que tinha lá. Derrotei o guerreiro por ele ter mostrado inevitavelmente a sua única e singular fraqueza à minha percepção.

É todo o teu mundo, o teu mais puro e o teu mais íntimo, que só se transparece em uma mínima fração de segundo que o teu olhar brilha mais forte, enquanto vira a cabeça de lado e deixa o cabelo no rosto tapar qualquer maior informação. E o que está lá é também o que mais me encanta, me cativa, me toca profundamente.

Então, entendi o sistema daquele reino pessoal. Aquele cavaleiro nada mais do que protegia e servia a sua própria rainha. Protegia nada mais do que o mais íntimo da sua personalidade, aquilo que realmente formava aquela realeza: seu castelo de sentimentos, aspirações, inspirações, pensamentos e desejos.

E tinha em mãos todas as chaves. Só eu. Conquista única, intransferível e incabível de ser feita por outro alguém, assim como fez Arthur com sua espada. Ninguém vai saber o que realmente existe por trás daqueles olhos. Não do modo e com a intensidade que eu vi. Se entrei ou não nesse universo pra ver quão lindo era? Tão óbvio quanto enfim achar o amor e não querer provar.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Orgulhe-se

Look What You've Done (Live) by Jet on Grooveshark


Hoje passei na fila do pão e estava distraído pensando em ti. Vi aquele bombom, aquele mesmo que tu gosta, resolvi te levar. Lembrei daquele baile que te emprestei o meu casaco na saída pra te proteger do frio. Era engraçado como as mangas sobravam e ficava grande no teu corpo, mas mesmo assim estava bonita e engraçada, se lembra?

Além disso, vem a imagem da tua cabeça no meu peito, da gente deitado na grama, no sol morno da primavera, com soninho e a certeza de que não precisaria sair dali nunca mais para ser feliz, se recordou? Penso nos passeios esquecendo o tempo que passava rápido, e só queria te ouvir sem que houvesse amanhã. Lembrou também?

E aquelas tardes de domingo, com algumas notas erradas no violão e vozes falhando, mas mesmo assim tu prestava atenção e pra nós não precisava mais nada, né? Lembro do bótom que te dei pra aquela velha jaqueta que junto com teu tênis e uma calça jeans qualquer te transformava na pessoa mais linda do mundo. Ainda tem?

Penso nos dias, nos abraços e no conforto que tínhamos nos nossos braços. Penso nas chegadas, nas despedidas, nos “boa noites” que me faziam ir flutuando pra casa, nas manhãs que eram pra ser mal dormidas, mas com o coração tão cheio de ti trazia calma e doçura para me fazer adormecer.

Lembrou de tudo isso? Não. Sobraram cenas que viriam de uma história que, em um determinado ponto, manchou-se de orgulho.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

- Oi, tudo bem?

Across The Universe by Escarabajos on Grooveshark


- Oi, tudo bem?

(Por um pequeno instante, uma fração de segundos, uma centelha na linha do tempo que nos conduz, pensei nos lugares por onde andei enquanto ela não estava. Todos aqueles lugares assombrados pela ausência daquela alma que iluminava e coloria ao redor de tudo que me cobria, e que hoje é o palco frio e cinza do meu andar errante.

Naquele breve espaço que compreende uma aspiração, retomei as noites atormentadas pela certeza de acordar sem ter um sentido maior para se levantar. Levantar do quê? A verdade é que foram noites que nem dormi, manhãs que não acordei, sono que eu não tive, e sim turbulências semi-conscientes encostadas em um travesseiro.

Ao segurar o ar e fechar os olhos, antes de responder, retrocedi as tantas tentativas falhas de substituir o espaço que ela deixou. Tentativas em que me sentia sujo, traindo a quem eu encontrava, por estar ali e ao mesmo tempo estar a milhas de distância, trair ao desviar de todo aquele caminho que pensava em trilhar, trair a tudo que eu sentia, até porque nada foi jogado fora, e sim guardado a sete chaves em um relicário dentro do peito, e que era um tesouro proibido e amaldiçoado que deveria ser atirado ao mar.

Veio à cabeça, quando devolvia o ar em modo de suspiro, das tentativas de, dia após dia, lidar com tudo isso, e ter agora a incerteza do que está por vir, de planejar toda e qualquer ação novamente. Afinal, tinha um plano que não cabia qualquer desvio. Depois que “nós” se tornou “eu”, não havia sobrado quase nada, e agora os passos são incertos, questionáveis e indecisos, embora saiba que é preciso repensar cada fio de estrada que terei pela frente.

Então, logo após esse pequeno e enorme espaço de tempo, enfim respondi...)

- Tudo...