quarta-feira, 1 de maio de 2013

Carta aberta aos headphones

Paranoid Android by Radiohead on Grooveshark


Já achei que o mundo se tratasse da relação entre amor e ódio, já espraiei sobre o céu e o inferno e o quanto eles formam nossa sociedade... Meu time contra o seu maior rival, então, nem se fala. Mas o que realmente compreende, alivia, enriquece e dá significado ao o que o todo-poderoso disse ter criado é o espaço estabelecido entre o left e right de um headphone.

É, sim, isso mesmo, você mesmo, fone de ouvido. Cara, tu tem sido um amigo e tanto. Velho, tu nem sabe, mas tu tem me ajudado pra caralho, talvez sem nem perceber.  E digo mais: tu não sabe quando tu me acompanha e o quanto eu consigo fugir de um cotidiano que possivelmente me daria um tédio logo ali. Sei o quanto tu é importante porque sei a falta que tu faz, então não inventa de se estragar. Imagina a diferença entre um mundo sem e com fone de ouvido?

Isso porque com a tua ajuda consegue-se mudar o ambiente, e como tu deve saber, sou um cara que gosta de ser sozinho, mas não de me sentir sozinho, logo, aquelas noites em que estou descendo uma avenida qualquer, por exemplo, são as quais tu mais se destaca. Consigo ver aquelas formas geométricas sob outra ótica, e com algo de Liverpool soando em estéreo percebo a cidade de outra maneira, que me fazem fugir dessa época, dessas modas, dessas tendências...

O aleatório acaba também sendo alguém muito interessante, desde que quem o use não seja daquelas pessoas que tenham algo comprometedor na sua playlist. E, particularmente, o random tira onda comigo. Primeiro porque ele me saca de dentro de um teatro em Madri percebendo vírgula por vírgula a pronúncia de algum caminho de Fito até me mudar de galáxia e me presentear com Space Cowboy.  Segundo, porque ele é justo: não tem jogos, o que escolher vai ser tocado e pronto, e o destino da próxima canção é incerto (e não cairei na tentação de passar a música, até porque isso alteraria toda ordem destinada previamente, seria como criar uma nova linha de tempo com situações totalmente diferentes). Por último, devo lembrar que esse modo randômico já me levou a lembrar de certas situações, quando sorrateiramente, com tanta coisa pra colocar, dedicou naquele momento aquela música que ele sabia que não era pra tocar. Mas, obedecemos às regras, e então ela deve ser escutada até o fim. Pois é, essa mesma bendita ou maldita música imprópria me levou a lembrar de outras coisas, que também me levou a outros lugares, que levaram a outros momentos, e a refletir durante uma noite inteira...

Se afundar numa canção imprópria para o momento numa dessas noites é um risco que se corre, mas também é verdade que pela simples companhia de uma par de headphones, aquela tarde vazia fica consideravelmente melhor. Durante o dia, nós humanos e frutos do rico sistema que fazemos questão de estar (risos) temos vários espaços vazios, minutos desperdiçados esperando alguma coisa qualquer, mas que com eles são cheios. Uma fila acaba sendo um bom lugar pra ouvir o que Dylan diz, um ônibus atrasado acaba sendo a hora que tu conversa com Mayer, e em um supermercado Morrison fica rindo da minha cara enquanto tento me dar bem em direção ao caixa com menos gente e acaba acontecendo um problema no cartão de crédito da pessoa da frente, e assim sou subsidiado em várias situações cotidianistas.

Enfim, algumas coisas que se compreendem no espaço estabelecido entre o left e right de um headphone.

Um comentário:

  1. Fones de ouvido entretêm meus demônios. Assim eles me deixam em paz por alguns incontáveis minutos.
    Você colocou uma das músicas mais lindas do Radiohead, que casou perfeitamente com o clima do texto.
    Já perdi as contas quantas vezes li todos os posts deste blog. Já me perdi nas inúmeras vezes que consegui fechar os olhos e me ver em outro lugar. Longe daqui, com outro alguém.
    Eu leria quantas vezes fosse se toda vez me trouxer essa paz.
    "Please could you stop the noise, I'm trying to get some rest!"
    You did this, my friend. Thanks.

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