Já achei que o mundo se tratasse
da relação entre amor e ódio, já espraiei sobre o céu e o inferno e o quanto
eles formam nossa sociedade... Meu time contra o seu maior rival, então, nem se
fala. Mas o que realmente compreende, alivia, enriquece e dá significado ao o
que o todo-poderoso disse ter criado é o espaço estabelecido entre o left e right de um headphone.
É, sim, isso mesmo, você mesmo,
fone de ouvido. Cara, tu tem sido um amigo e tanto. Velho, tu nem sabe, mas tu
tem me ajudado pra caralho, talvez sem nem perceber. E digo mais: tu não sabe quando tu me
acompanha e o quanto eu consigo fugir de um cotidiano que possivelmente me
daria um tédio logo ali. Sei o quanto tu é importante
porque sei a falta que tu faz, então não inventa de se estragar. Imagina a
diferença entre um mundo sem e com fone de ouvido?
Isso porque com a tua ajuda
consegue-se mudar o ambiente, e como tu deve saber, sou um cara que gosta de
ser sozinho, mas não de me sentir sozinho, logo, aquelas noites em que estou
descendo uma avenida qualquer, por exemplo, são as quais tu mais se destaca.
Consigo ver aquelas formas geométricas sob outra ótica, e com algo de Liverpool
soando em estéreo percebo a cidade de outra maneira, que me fazem fugir dessa
época, dessas modas, dessas tendências...
O aleatório acaba também sendo
alguém muito interessante, desde que quem o use não seja daquelas pessoas que
tenham algo comprometedor na sua playlist. E, particularmente, o random tira onda comigo. Primeiro porque
ele me saca de dentro de um teatro em Madri percebendo vírgula por vírgula a
pronúncia de algum caminho de Fito até me mudar de galáxia e me presentear com Space Cowboy. Segundo, porque ele é justo: não tem jogos, o
que escolher vai ser tocado e pronto, e o destino da próxima canção é incerto
(e não cairei na tentação de passar a música, até porque isso alteraria toda
ordem destinada previamente, seria como criar uma nova linha de tempo com
situações totalmente diferentes). Por último, devo lembrar que esse modo
randômico já me levou a lembrar de certas situações, quando sorrateiramente, com
tanta coisa pra colocar, dedicou naquele momento aquela música que ele sabia
que não era pra tocar. Mas, obedecemos às regras, e então ela deve ser escutada
até o fim. Pois é, essa mesma bendita ou maldita música imprópria me levou a
lembrar de outras coisas, que também me levou a outros lugares, que levaram a
outros momentos, e a refletir durante uma noite inteira...
Se afundar numa canção imprópria
para o momento numa dessas noites é um risco que se corre, mas também é verdade
que pela simples companhia de uma par de headphones, aquela tarde vazia fica
consideravelmente melhor. Durante o dia, nós humanos e frutos do rico sistema
que fazemos questão de estar (risos) temos vários espaços vazios, minutos
desperdiçados esperando alguma coisa qualquer, mas que com eles são cheios. Uma
fila acaba sendo um bom lugar pra ouvir o que Dylan diz, um ônibus atrasado
acaba sendo a hora que tu conversa com Mayer, e em um supermercado Morrison
fica rindo da minha cara enquanto tento me dar bem em direção ao caixa com
menos gente e acaba acontecendo um problema no cartão de crédito da pessoa da
frente, e assim sou subsidiado em várias situações cotidianistas.
Enfim, algumas coisas que se
compreendem no espaço estabelecido entre o left
e right de um headphone.
Fones de ouvido entretêm meus demônios. Assim eles me deixam em paz por alguns incontáveis minutos.
ResponderExcluirVocê colocou uma das músicas mais lindas do Radiohead, que casou perfeitamente com o clima do texto.
Já perdi as contas quantas vezes li todos os posts deste blog. Já me perdi nas inúmeras vezes que consegui fechar os olhos e me ver em outro lugar. Longe daqui, com outro alguém.
Eu leria quantas vezes fosse se toda vez me trouxer essa paz.
"Please could you stop the noise, I'm trying to get some rest!"
You did this, my friend. Thanks.