segunda-feira, 21 de maio de 2012

O poeta, o céu e o inferno

Crossroad Blues by Robert Johnson on Grooveshark


Seria o poeta uma alma penada vagando por aí a olhar o que os homens tão concentrados em suas miudíces não conseguem ver e muito menos viver? Sim, seria. E assim, por aí ele segue, retrata o invisível, sente o verdadeiro, explora o inimaginável, nega se render ao cotidianista, vazio e supérfluo modo de viver humano (sem citar suas mediocridades).

Assim sendo, o céu talvez não seja um bom lugar para o poeta. Lá ele não se ajusta, adormece seus pensamentos, e a redenção das alturas seda suas ideias. Ele adormece, tranqüiliza sua tão inquieta alma, e assim deixa o seu olhar leve, sereno, pacato, como o alvi-celeste cenário do quadro em que está envolto.
A poesia precisa de um olhar em chamas, de explosões verborrágicas vindas de dentro para fora, de um sentir flamejante que eleva a temperatura interna do córtex e faz com que ele encandeie o que está por vir em um pedaço qualquer de papel.

Não digo, sobremaneira, que o inferno seja o meu lugar, mas já tenho uma reunião marcada com o anjo que não deu certo, que tanto insiste em querer ter-me por perto. Embora ele já saiba, é provável que os mortais (devido ao tamanho descaso com os que vivem do escrever) desconheçam que a alma de um poeta é um bem raro, único, caro.

O céu não serve, a terra não quer... Nada impede de "ele" ter que pagar um preço bem alto.

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