sábado, 8 de setembro de 2012

Santuário

O bloco (part. 2/4)

The End by The Doors on Grooveshark

Uma série de evidências estava embaixo daquele bloco. Em um empoeirado documento, por exemplo, um pensamento escrito: “como é bom escutar algumas canções e lembrar de ti, parece que as nossas almas dançam à distância. E é engraçado como lembrei e te vi em tudo hoje... aquela memória, uma embalagem de bombom solta no quatro, uma palheta achada no bolso que me levou a um dia em que houve um fato em que tu estava, aquela rua por onde passamos, aquele banco que a gente sentou numa tarde qualquer só pra prestar atenção um no outro e deixar o vento e a tarde se irem... Bah, que falta do teu abraço”. Essas evidências em comum eram misturadas com objetos, cartas, filmes, livros, anotações, e tudo com a mesma essência: em tudo que era feito, doava-se à outra pessoa antes de si mesmo.

Essas conexões, atitudes e modo de pensar não faziam o menor sentido para os valores, costumes e crenças daquele novo mundo, que pensava no desenvolvimento lógico da sociedade como um todo, e para isso era desnecessário qualquer ligação emocional tão rica de detalhes que foi vista com surpresa por aquela nova sociedade.

Um banco servia para sentar, como poderiam morar memórias ali? Uma música tinha a finalidade recreativa, educacional ou então para exibição técnica – como que aquelas velhas, ultrapassadas e pouco elaboradas canções poderiam despertar um sentir tão forte? Como uma rua poderia ser cenário inspirador de algo real? Uma rua era apenas uma rua, um instrumento para funcionar o transporte e ponto. Não haveria de ter sentimento nisso tudo, assim pensavam os homens novos. Mas havia.

E assim o novo homem ficava perplexo por saber que coisas tão simples faziam tanta diferença. A fórmula para dar sentido à vida, um sentido que já não existia, estava tão simples e tão clara, diferente de toda complexidade em tudo. Bastava gostar e ter isso de volta. Quando os arqueólogos e estudiosos mais estavam empolgados com a nova descoberta, uma surpresa: em um determinado ponto, essa história foi cortada.

O nosso universo paralelo, documentado, conta a estória de uma história. Ela não teve fim. Nunca terá. Em um determinado espaço de tempo, palavras e atitudes fizeram com que – por arquitetura de um, mas projeto do outro, versa, vice – fosse colocado um enorme bloco de pedra em cima da linha de uma história tão singular. E assim fomos nós dois.

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