domingo, 9 de setembro de 2012

Santuário

O dia em que o amor morreu (3/4)

Not Dark Yet by Bob Dylan on Grooveshark

Tanto se estudou que as conclusões ficaram claras. Querer, mas ser recíproco. Isso era uma condição pra criação, solidificação e manutenção do tal universo paralelo formado de sentimentos e baseado em um que se sobrepunha aos outros. O ser humano de caráter passional não poderia ser leviano. A paixão tornava alguns pontos fracos, mas ser vencidos por eles poderia ser fatal e assim haveria a ruína/destruição, de um modo ou outro, de todo aquele mundo mágico e possível.

Era uma única condição. E talvez esse universo entre duas pessoas poderia se estender. Sentimentos eram contagiantes e extensivos às outras pessoas, mas era preciso seguir essa condição para que isso ganhasse força. Havia, na literatura popular, frases que se perderam ao longo dos tempos, mas que agora poderiam fazer sentido novamente. Uma delas, de autor desconhecido, dizia que era “preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”. Eis a fórmula, tão clara e popular.

Erros, claro, aconteciam, afinal o ser humano foi e sempre será um ser em evolução, e o erro faz parte do processo evolutivo. Aí entrava outro aspecto importantíssimo da condição humana, também em desuso naqueles dias: o perdão aliado à vontade de querer estar perto, melhorar e evoluir com os próprios desacertos eram remédios acessíveis para os buracos que se formavam na atmosfera de cada casal.

Em estudos a fio, os estudiosos perceberam, sem entender, que em uma determinada noite os indícios foram cortados. As provas passaram a não existir mais, diálogos se calaram, passos foram silenciados e as páginas passaram a ser em branco, com apenas rabiscos e rasuras em algumas delas.

Depois do rompimento, abandono ou término dos elementos daquela história, vontades recíprocas até apareceram, mas o outro elemento (até por mais raro), apelidado pelos historiadores de “perdão mútuo”, foi procurado a esmo nas evidências e nunca foi encontrado.

A tendência nos registros históricos resgatados pelo homem do futuro apontava que na mesma época em que o bloco de pedra foi colocado em cima da nossa história, houve uma mudança na postura de todas as sociedades, então, após a descoberta, elegeu-se o dia da nossa queda como o dia que o amor morreu.

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